terça-feira, 30 de novembro de 2010

O PENSAMENTO DE DAVID HUME

            David Hume inicia seu livro Investigação Acerca do Entendimento Humano fazendo uma descrição do que seja a filosofia moral e como ela se divide. Primeiramente, diz que temos uma que vê o homem nascido para a ação e que é influenciado pelo gosto e pelos sentimentos, aqui o filósofo tem o papel de induzir os homens para a virtude pautando bem a diferença entre ela e o vício, mas sempre a exaltando. Depois temos outra filosofia moral em que o homem é visto mais pelo seu lado racional e os filósofos desta linha procuram formar o seu entendimento do que melhorar sua conduta.
            Depois é feito um comentário a respeito da Filosofia em geral. Primeiro sobre a fácil e clara que é aderida por muitos e estes a classificaram como a mais útil e agradável. E sobre a Filosofia exata e abstrusa que não penetra na vida prática e menos famosa que a outra, aqui os sentimentos apenas atrapalham, pois dificultam que ela chegue a uma conclusão. Esta última ao cometer um erro que para ela está correto, mas que contraria a opinião popular, ao invés de acatar a opinião correta, ela se fecha e mantém a sua. Já a fácil em tal situação se volta para o senso comum e retorna para o caminho correto.
            O Filósofo é o excluído do mundo, pois para a sociedade sua contribuição é insignificante e ele vive distante (“nas nuvens”). E o ignorante? Este também é excluído por não saber se abrir ao novo. Portanto para a sociedade o melhor é o que está entre estes, como diria Aristóteles é o meio-termo entre os extremos.
            Em outra parte, Hume coloca o surgimento da idéia. Que tem suas bases na memória, imaginação e nos sentidos. Com relação aos sentidos devemos ser precavidos, não devemos dar inteira confiança para eles já que estes são capazes de erro e assim nos enganam, neste ponto entra a razão que será a capaz de nos orientar quando os sentidos estão enganados ou não.
            Ainda com relação às idéias existe uma associação (conexão) entre ambas que se faz a partir de três princípios: de semelhança, de contigüidade (no tempo e no espaço) e de causa ou efeito. Sendo que o princípio de causas será o mais satisfatório, talvez até o mais forte porque é o ponto em comum de onde derivam algumas idéias.
“Mas apressemo-nos a concluir esta argumentação, que já se tem feito demasiado extensa. Temos procurado em vão uma idéia de poder ou de conexão necessária em todas as fontes de onde pudesse originar (... De modo que, resumindo, não aparece, em toda a natureza, um único exemplo de conexão passível de nossa concepção. Todos os eventos parecem inteiramente soltos e separados. Um evento segue outro, porém jamais podemos observar um laço entre eles. Parecem estar em conjunção, mas jamais em conexão. E como não podemos jamais formar idéia de uma coisa que nunca se revelou aos nossos sentidos externos ou sentido interno, a conclusão necessária parece ser que não temos, definitivamente, idéia de conexão...” (Investigação acerca do entendimento humano, 101)

            Portanto esta idéia de uma conexão necessária é difícil de ser concebida uma vez que as idéias estão juntas e separadas ao mesmo tempo, existem aspectos que as unem e outros que as separam, porém estes aspectos que os unem não possuem uma explicação dentro de nosso intelecto, neste caso é mais fácil e é a nossa única opção concluir que não há idéia de conexão.
            Voltando a questão dos sentidos, as características que percebemos através deles nos objetos, na verdade não estão nos objetos, mas é uma coisa que está no espírito, podemos dizer que é o espírito ou a razão, como é apresentado em algumas traduções, que irá designar a característica do objeto a partir de seu quadro de referência que pode ser tanto interno (seu próprio conhecimento) ou externo (através de comparações com outros objetos). Por exemplo: um garoto de 1,5 m pode ser baixo se comparado com um de 1,6 m, mas também pode ser considerado alto se comparado com outro de 1,4 m.
            O Ceticismo para Hume deve ser Moderado, ou seja, deve ser um ceticismo que restrinja nossas investigações aos objetos que mais se encaixam em nossa capacidade de entendimento humano. Ao evitar pesquisas muito complexas devemos nos pautar na vida diária e resolver nossas questões através das experiências. Já os que apresentam um gosto pela Filosofia devem ir mais além às suas especulações.
            A Teologia faz uso de raciocínios de fatos particulares e gerais para provar a existência de Deus e a imortalidade das almas, se fundamentando também sobre a razão que se apóia nas suas experiências. No entanto seu melhor princípio é a fé e a revelação divina.
 “Quando percorremos as bibliotecas, persuadidos destes princí­pios, que destruição deveríamos fazer? Se examinarmos, por exemplo, um volume de teologia ou de metafísica escolástica e indagarmos:
          Contém algum raciocínio abstrato acerca da quantidade ou do número? Não. Contém algum raciocínio experimental a respeito das questões de fato e de existência? Não. Portanto, lançai-o ao fogo, pois não contém senão so­fismas e ilusões.” (Investigação Acerca do Entendimento Humano)



Referências Bibliográficas

HUME, David. Investigação acerca do entendimento humano.

ARISTÓTELES, 348 a.C. – 322 a.C. Metafísica: livro I e livro II; Ética a Nicômaco; Poética. São Paulo: Abril S/A Cultural, 1984 (Os Pensadores II).

Dicionário Logos: Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia. Lisboa: Verbo, 1989, Volume I.